quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Conselhos a um poeta.

Continuando a série de textos sobre o fazer poético, um texto em que Mário Quintana dá conselhos a um jovem poeta:

CARTA A UM POETA

Meu caro poeta,

Por um lado foi bom que me tivesses pedido resposta urgente, senão eu jamais escreveria sobre o assunto desta, pois não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa. A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar. O poema, não; descreve uma parábola tracada pelo próprio impulso (ritmo); é que nem um grito. Todo poema é, para mim, uma interjeição ampliada; algo de instintivo, carregado de emoção. Com isso não quero dizer que o poema seja uma descarga emotiva, como o fariam os românticos. Deve, sim, trazer uma carga emocional, uma espécie de radioatividade, cuja duração só o tempo dirá. Por isso há versos de Camões que nos abalam tanto até hoje e há versos de hoje que os pósteros lerão com aquela cara com que lemos os de Filinto Elísio. Aliás, a posteridade é muito comprida: me dá sono. Escrever com o olho na posteridade é tão absurdo como escreveres para os súditos de Ramsés II, ou para o próprio Ramsés, se fores palaciano. Quanto a escrever para os contemporâneos, está muito bem, mas como é que vais saber quem são os teus contemporâneos? A única contemporaneidade que exi ste é a da contingência política e social, porque estamos mergulhados nela, mas isto compete melhor aos discursivos e expositivos , aos oradores e catedráticos. Que sobra então para a poesia? - perguntarás. E eu te respondo que sobras tu. Achas pouco? Não me refiro à tua pessoa, refiro-me ao teu eu, que transcende os teus limites pessoais, mergulhando no humano. O Profeta diz a todos: "eu vos trago a Verdade", enquanto o poeta, mais humildemente, se limita a dizer a cada um: "eu te trago a minha verdade." E o poeta, quanto mais individual, mais universal, pois cada homem, qualquer que seja o condicionamento do meio e e da época, só vem a compreender e amar o que é essencialmente humano. Embora, eu que o diga, seja tão difícil ser assim autêntico. Às vezes assalta-me o terror de que todos os meus poemas sejam apócrifos!

Meu poeta, se estas linhas estão te aborrecendo é por que és poeta mesmo. Modéstia à parte, as disgressões sobre poesia sempre me causaram tédio e perplexidade. A culpa é tua, que me pediste conselho e me colocas na insustentável situação em que me vejo quando essas meninas dos colégios vêm (por inocência ou maldade dos professores) fazer pesquisas com perguntas assim: "O que é poesia? Por que se tornou poeta? Como escrevem os seus poemas?" A poesia é dessas coisas que a gente faz mas não diz.

A poesia é um fato consumado, não se discute; perguntas-me, no entanto, que orientação de trabalho seguir e que poetas deves ler. Eu tinha vontade de ser um grande poeta para te dizer como é que eles fazem. Só te posso dizer o que eu faço. Não sei como vem um poema. Às vezes uma palavra, uma frase ouvida, uma repentina imagem que me ocorre em qualquer parte, nas ocasiões mais insólitas. A esta imagem respondem outras. Por vezes uma ri ma até ajuda, com o inesperado da sua associação. (Em vez de associações de idéias, associações de imagem; creio ter sido esta a verdadeira conquista da poesia moderna.) Não lhes oponho trancas nem barreiras. Vai tudo para o papel. Guardo o papel, até que um dia o releio, já esquecido de tudo (a falta de memória é uma bênção nestes casos). Vem logo o trabalho de corte, pois noto logo o que estava demais ou o que era falso. Coisas que pareciam tão bonitinhas, mas que eram puro enfeite, coisas que eram puro desenvolvimento lógico (um poema não é um teorema) tudo isso eu deito abaixo, até ficar o essencial, isto é, o poema. Um poema tanto mais belo é quanto mais parecido for com o cavalo. Por não ter nada de mais nem nada de menos é que o cavalo é o mais belo ser da Criação.

Como vês, para isso é preciso uma luta constante. A minha está durando a vida inteira. O desfecho é sempre incerto. Sinto-me capaz de fazer um poema tão bom ou tão ruinzinho como aos 17 anos. Há na Bíblia uma passagem que não sei que sentido lhe darão os teólogos; é quando Jacob entra em luta com um anjo e lhe diz: "Eu não te largarei até que me abençoes". Pois bem, haverá coisa melhor para indicar a luta do poeta com o poema? Não me perguntes, porém, a técnica dessa luta sagrada ou sacrílega. Cada poeta tem de descobrir, lutando, os seus próprios recursos. Só te digo que deves desconfiar dos truques da moda, que, quando muito, podem enganar o público e trazer-te uma efêmera popularidade.

Em todo caso, bem sabes que existe a métrica. Eu tive a vantagem de nascer numa época em que só se podia poetar dentro dos moldes clássicos. Era preciso ajustar as palavras naqueles moldes, obedecer àquelas rimas. Uma bela ginástica, meu poeta, que muitos de hoje acham ingenuamente desnecessária. Mas, da mesma forma que a gente primeiro aprendia nos cadernos de caligrafia para depois, com o tempo, adquirir uma letra própria, espelho grafológico da sua individualidade, eu na verdade te digo que só tem capacidade e moral para criar um ritmo livre quem for capaz de escrever um soneto clássico. Verás com o tempo que cada poema, aliás, impõe sua forma; uns, as canções, já vêm dançando, com as rimas de mãos dadas, outros, os dionisíacos (ou histriônicos, como queiras) até parecem aqualoucos. E um conselho, afinal: não cortes demais (um poema não é um esquema); eu próprio que tanto te recomendei a contenção, às vezes me distendo, me largo num poema que vai lá seguindo com os detritos, como um rio de enchente, e que me faz bem, porque o espreguiçamento é também uma ginástica. Desculpa se tudo isso é uma coisa óbvia; mas para muitos, que tu conheces, ainda não é; mostra-lhes, pois, estas linhas.

Agora, que poetas deves ler? Simplesmente os poetas de que gostares e eles assim te ajudarão a compreender-te, em vez de tu a eles. São os únicos que te convêm, pois cada um só gosta de quem se parece consigo. Já escrevi, e repito: o que chamam de influência poética é apenas confluência. Já li poetas de renome universal e, mais grave ainda, de renome nacional, e que no entanto me deixaram indiferente. De quem a culpa? De ninguém. É que não eram da minha família. Enfim, meu poeta, trabalhe, trabalhe em seus versos e em você mesmo e apareça-me daqui a vinte anos. Combinado?

Mário Quintana


sábado, 30 de agosto de 2008

O que faz de alguém poeta?

Assistindo a uma aula meio sem futuro na faculdade, pensava em algo para postar aqui e resolvi folhear o livro que tinha mandado emplastificar para dar de presente à minha ex-aluna, Sarah. O livro era Para viver um grande amor (crônicas e poemas), e Vinicius me deu um texto sobre o que queria colocar no blog, com uma qualidade infinitamente superior a qualquer coisa que eu viesse a escrever. Pouco antes da aula começar tive uma discussão com meu amigo, Márcio, sobre o que é ser poeta, sobre o que a poesia representa para o poeta, para o leitor, para a sociedade. Poeta é quem escreve, mas nunca publicou nada? Poeta é quem tem livro publicado, independente de o livro ser bom ou não? E quem julga se o livro é bom, se o trabalho de determinado poeta tem qualidade? Os críticos? Os leitores em geral? Ele mesmo?

Eu já fui metido a poeta quando adolescente. Meu amigo ainda é.
Após o modernismo, que trouxe a supremacia do verso livre, todo mundo passou a achar que era fácil ser poeta: basta desabafar suas dores no papel, sair quebrando o texto em “versos” e pronto. Sem conhecer nada de versificação, nada de musicalidade, nada de técnica literária, muitas vezes com um vocabulário bem limitado. E hoje, com a internet, com a facilidade que tem de se ser lido por um grande número de pessoas ao publicar textos em blogs e afins, pululam “poetas”, “contistas”, “cronistas”, “artistas” em geral. Não estou exatamente questionando a qualidade - algumas coisas boas se encontram por aí! – estou questionando o posicionamento diante da arte, o amadorismo, a ausência de compromisso até consigo mesmo diante do “querer ser artista”, a ausência de auto-crítica. Escreve-se qualquer coisa, publica-se num blog, ou num zine, e diz-se: “sou poeta”.
Sim, “poeta”, você tem um dom? Os grandes da Literatura, da Pintura, da Escultura, por mais agraciados que fossem no quesito “dom”, estudavam, pesquisavam, procuravam mestres que os orientassem, dominavam as técnicas do seu fazer artístico. E você, o que faz?

Bem, a briga com o Márcio foi animada. Teremos muitas outras, ainda, se ele não se esquivar. Nos próximos posts colocarei textos de artistas consagrados falando sobre o assunto. Hoje, deixo o poetinha falar.

Steller de Paula

Sobre poesia



Não têm sido poucas as tentativas de definir o que é poesia. Desde Platão e Aristóteles até os semânticos e concretistas modernos, insistem filósofos, críticos e mesmo os próprios poetas em dar uma definição da arte de se exprimir em versos, velha como a humanidade. Eu mesmo, em artigos e críticas que já vão longe, não me pude furtar à vaidade de fazer os meus mots de finesse em causa própria - coisa que hoje me parece senão irresponsável, pelo menos bastante literária.

Um operário parte de um monte de tijolos sem significação especial senão serem tijolos para - sob a orientação de um construtor que por sua vez segue os cálculos de um engenheiro obediente ao projeto de um arquiteto - levantar uma casa. Um monte de tijolos é um monte de tijolos. Não existe nele beleza específica. Mas uma casa pode ser bela, se o projeto de um bom arquiteto tiver a estruturá-lo os cálculos de um bom engenheiro e a vigilância de um bom construtor no sentido do bom acabamento, por um bom operário, do trabalho em execução.

Troquem-se tijolos por palavras, ponha-se o poeta, subjetivamente, na quádrupla função de arquiteto, engenheiro, construtor e operário, e aí tendes o que é poesia. A comparação pode parecer orgulhosa, do ponto de vista do poeta, mas, muito pelo contrário, ela me parece colocar a poesia em sua real posição diante das outras artes: a de verdadeira humildade. O material do poeta é a vida, e só a vida, com tudo o que ela tem de sórdido e sublime. Seu instrumento é a palavra. Sua função é a de ser expressão verbal rítmica ao mundo informe de sensações, sentimentos e pressentimentos dos outros com relação a tudo o que existe ou é passível de existência no mundo mágico da imaginação. Seu único dever é fazê-lo da maneira mais bela, simples e comunicativa possível, do contrário ele não será nunca um bom poeta, mas um mero lucubrador de versos.

O material do poeta é a vida, dissemos. Por isso me parece que a poesia é a mais humilde das artes. E, como tal, a mais heróica, pois essa circunstância determina que o poeta constitua a lenha preferida para a lareira do alheio, embora o que se mostre de saída às visitas seja o quadro em cima dela, ou a escultura no saguão, ou o último long-playing em alta- fidelidade, ou a própria casa se ela for obra de um arquiteto de nome. E eu vos direi o porquê dessa atitude, de vez que não há nisso nenhum mistério, nem qualquer demérito para a poesia. É que a vida é para todos um fato cotidiano. Ela o é pela dinâmica mesma de suas contradições, pelo equilíbrio mesmo de seus pólos contrários.
O homem não poderia viver sob o sentimento permanente dessas contradições e desses contrários, que procura constantemente esquecer para poder mover a máquina do mundo, da qual é o único criador e obreiro, e para não perder a sua razão de ser dentro de uma natureza em que constitui ao mesmo tempo a nota mais bela e mais desarmônica. Ou melhor: para não perder a razão tout court.Mas para o poeta a vida é eterna. Ele vive no vórtice dessas contradições, no eixo desses contrários. Não viva ele assim, e transformar-se á certamente, dentro de um mundo em carne viva, num jardinista, num floricultor de espécimes que, por mais belos sejam, pertencem antes a estufas que ao homem que vive nas ruas e nas casas. Isto é: pelo menos para mim.
E não é outra a razão pela qual a poesia tem dado à história, dentro do quadro das artes, o maior, de longe o maior número de santos e de mártires. Pois, individualmente, o poeta é, ai dele, um ser em constante busca de absoluto e, socialmente, um permanente revoltado. Daí não haver por que estranhar o fato de ser a poesia, para efeitos domésticos, a filha pobre na família das artes, e um elemento de perturbação da ordem dentro da sociedade tal como está constituída.Diz-se que o poeta é um criador, ou melhor, um estruturador de línguas e, sendo assim, de civilizações.

Homero, Virgílio, Dante, Chaucer, Shakespeare, Camões, os poetas anônimos do Cantar de Mío Cid vivem à base dessas afirmações. Pode ser. Mas para o burguês comum a poesia não é coisa que se possa trocar usualmente por dinheiro, pendurar na parede como um quadro, colocar num jardim como uma escultura, pôr num toca-discos como uma sinfonia, transportar para a tela como um conto, uma novela ou um romance, nem encenar, como um roteiro cinematográfico, um balé ou uma peça de teatro. Modigliani - que se fosse vivo seria multimilionário como Picasso - podia, na época em que morria de fome, trocar uma tela por um prato de comida: muitos artistas plásticos o fizeram antes e depois dele. Mas eu acho difícil que um poeta possa jamais conseguir o seu filé em troca de um soneto ou uma balada. Por isso me parece que a maior beleza dessa arte modesta e heróica seja a sua aparente inutilidade. Isso dá ao verdadeiro poeta forças para jamais se comprometer com os donos da vida. Seu único patrão é a própria vida: a vida dos homens em sua longa luta contra a natureza e contra si mesmos para se realizarem em amor e tranqüilidade.

Vinicius de Moraes

domingo, 10 de agosto de 2008

A escravidão, o Brasil de hoje e a Literatura.


“O Brasil é um país fundado sobre o trabalho forçado e o comércio de gente.” - Roberto Pompeu de Toledo

Como foi isso? E o que tem a ver conosco, hoje?

“Eles estavam por toda parte. Na lavoura, nas cidades. Dentro de casa, nas senzalas, fugidos no mato. Prestando serviços nas grandes cidades, como Rio de Janeiro e Salvador: vendendo água, comida, panelas, miçangas, badulaques. Exercendo ofícios especializados, como conta um observador da vida brasileira do século passado, o francês Jean-Baptiste Debret.

Eles eram carregadores, também. "Carregavam tudo nesse Brasil, onde homens de qualidade se recusavam a levar o mais ínfimo pacote", escreve a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, no livro Negros, Estrangeiros. Carregavam as cadeirinhas onde os brancos iam sentados, baús, caixas, caixões, caixotes, sacas de café, os barris com os dejetos produzidos nas casas, que logo cedo, às 6 da manhã, no Rio de Janeiro, procissões de negros iam jogar ao mar. Este foi um país de escravos. O maior país de escravos dos tempos modernos, talvez. Ou, pelo menos, o país moderno mais dependente de escravos. Ou, pelo menos, o maior e mais dependente de escravos do continente americano.

O Hino à República, aquele que pede à liberdade para que "abra as asas sobre nós", diz a certa altura:

“Nós nem cremos que escravos outrora
Tenha havido em tão nobre país... "

São versos espantosos. "Outrora" houve escravos. O hino é de 1890. Fazia dois anos, portanto, ainda havia escravos, talvez dentro da casa, ou pelo menos na porta do autor da letra, o poeta pernambucano Medeiros e Albuquerque. Como "outrora"? Dois anos é outrora? E a letra diz que nós "nem cremos" que tenha havido escravo. Como não cremos? Era só olhar em volta, ou um pouquinho para trás. Já tinha começado o processo de esquecimento que dura até hoje.
Um escravo podia ser objeto de compra, venda, empréstimo, doação, penhor, seqüestro, transmissão por herança, embargo, depósito, arremate e adjudicação, como qualquer mercadoria. Mas era uma mercadoria especial. Quando cometia um crime, era punido com os rigores do Código Penal. Por isso, o historiador Jacob Gorender escreveu: "O primeiro ato humano do escravo é o crime". Então ele virava gente, de pleno direito.

O historiador Luiz Felipe Alencastro, que última um aguardado livro sobre o assunto, O Trato dos Viventes, afirma: "A escravidão não dizia respeito apenas ao escravo e ao senhor. Ela gangrenava a sociedade toda, e criou um padrão de relações sociais e de trato político que deixou conseqüências graves". Para insistir em algo que nunca é demais repetir, o Brasil é um país criado na concepção de que trabalho é escravidão. Portanto, liberdade é não-trabalho.

Que significa para o Brasil, hoje, ter tido escravos?
O historiador baiano João José Reis responde: "Não acho que todos os problemas brasileiros, inclusive de relações entre as classes, tenham a ver com a escravidão. Mas o fato é que tivemos quase 400 anos de História em que os mais afortunados se acostumaram à noção de que os outros podem ser torturados. Isso pesa".

O historiador Manolo Garcia Florentino responde: "A escravidão foi a base a partir da qual se fundou uma civilização, para retomar Sérgio Buarque de Holanda, para quem o Brasil, por sua complexidade e diversidade, era uma civilização. Ela fundou a civilização brasileira. E ao fazê-lo viabilizou um projeto excludente, em que o objetivo das elites é manter a diferença com relação ao restante da população".

O historiador Flávio dos Santos Gomes: "É problemático pensar em continuidades. Se há no Brasil um sistema racial opressivo, não é necessariamente porque aqui houve escravidão. A explicação do racismo também se encontra no que ocorreu depois da abolição. É comum ouvir falar hoje em relações escravistas ou semi-escravistas no campo. Quando se diz isso, pensa-se num modelo que não é generalizante. Houve vários tipos de relação com escravos no Brasil. Houve, por exemplo, escravos a quem era permitido manter pequenas roças, fazer um pequeno comércio ou receber por dia. Ora, relações que hoje são tachadas de escravistas podem na verdade ser piores do que certos modelos que vigoraram na escravidão".

O historiador Luiz Felipe Alencastro: "A escravidão legou-nos uma insensibilidade, um descompromisso com a sorte da maioria que está na raiz da estratégia das classes mais favorecidas, hoje, de se isolar, criar um mundo só para elas, onde a segurança está privatizada, a escola está privatizada, a saúde".

Adaptado do artigo "À Sombra da Escravidão" de Roberto Pompeu de Toledo.

E olha o que dizia o Darcy Ribeiro:

O Brasil cresceu visivelmente nos últimos 80 anos. Cresceu mal, porém. Cresceu como um boi mantido, desde bezerro, dentro de uma jaula de ferro. Nossa jaula são as estruturas sociais medíocres, inscritas nas leis, para compor um país da pobreza na província mais bela da terra. Sendo assim, no Brasil do futuro, a maioria da gente nascerá e viverá nas ruas, em fome canina e ignorância figadal, enquanto a minoria rica, com medo dos pobres, se recolherá em confortáveis campos de concentração, cercados de arame farpado e eletrificado. Entretanto, é tão fácil nos livrarmos dessas teias, e tão necessário, que dói em nós... A nossa conivência culposa.
Sobre o(a) autor(a):Darcy Ribeiro, grande educador e antropólogo de impacto mundial. Foi Ministro da Educação com pouco mais de 30 anos, Ministro Chefe da Casa Civil, vice-governador do Rio e senador. Foi imortalizado pela Academia Brasileira de Letras.

Ele acertou o prognóstico?

Olha o que diz Gabriel, O pensador:

“Acordo, não tenho trabalho, procuro trabalho, quero trabalhar.O cara me pede o diploma, não tenho diploma, não pude estudar. E querem que eu seja educado, que eu ande arrumado, que eu saiba falar Aquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dá. Consigo um emprego, começa o emprego, me mato de tanto ralar. Acordo bem cedo, não tenho sossego nem tempo pra raciocinar. Não peço arrego, mas onde que eu chego se eu fico no mesmo lugar? Brinquedo que o filho me pede, não tenho dinheiro pra dar. Escola, esmola! Favela, cadeia! Sem terra, enterra! Sem renda, se renda! Não! Não!!”

E O QUE TUDO ISSO TEM A VER COM LITERATURA?
Isso tem muito a ver com literatura, que muitas vezes foi escrita com um objetivo claro de fazer denúncia social. Grandes escritores de nossa literatura usaram como tema as várias mazelas brasileiras, como a escravidão, a desigualdade social, a concentração de terra, a corrupção, o analfabetismo, o voto de cabresto... E são tantas!
Nós vamos discutir mais sobre escravidão, por exemplo, quando formos estudar Castro Alves, o poeta dos escravos!
Ah, e lembrando que daqui a alguns minutos tem jogo da seleção brasileira de futebol nas olimpíadas, dêem uma olhadinha nessa charge: http://www.laboratoriodedesenhos.com.br/corrente_page.htm
Quer saber sobre o trabalho escravo hoje:

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Por que estudar Literatura?

Olá, galera!
Sejam bem vindos ao nosso blog! Ele tem como objetivo, inicialmente, divulgar informações práticas sobre o nosso curso que está para começar. Mas também será, ao longo do curso, um espaço de discussão, de debate, uma maneira de mantermos uma comunicação com nossos futuros alunos, com os que não puderam se tornar alunos, com os curiosos, enfim, com todos que gostem de fomentar uma boa discussão, baseada em idéias e argumentos.

Como professores, sempre escutamos dos alunos as perguntas: “Pra que estudar Literatura?”, “Pra que seve a Literatura?”.
Nesta época de predomínio da internet, que, apesar de seus benefícios, prende o indivíduo no Orkut, no MSN, em blogs como Kibeloco e etc (e falamos por experiência própria, pois algumas vezes nos surpreendemos presos e lutamos para nos libertar), a Literatura realmente tem parecido bem desinteressante a muitas pessoas. Mas, nesta época de idiotização em massa, é responsabilidade do aluno de Letras e, principalmente, do professor reconhecer e usar a Literatura como ferramenta de esclarecimento, como instrumento do “fazer pensar”.
A literatura, ao mesmo tempo em que reflete uma sociedade, uma maneira de pensar, influencia esta mesma sociedade, configurando novos modos de pensar, num jogo dialético, em que o escritor, tendo ou não consciência disso, assume um papel social.
E vai além. Não só leva o leitor a refletir sobre a sociedade em que está inserido, como o leva a refletir sobre o seu papel nesta sociedade, sobre o que é ser Humano, sobre si mesmo, seus medos, seus sonhos, suas motivações, seus sentimentos!
E não fomos nós, no auge de nossa genialidade, quem descobrimos isso:



Nós só fomos ajudados a perceber isso.
E podemos, sim, repetir os clichês: leitura é diversão, quem lê viaja, é melhor ler do que estudar, pois todos são verdadeiros!



Claro, nem sempre o estudo da Literatura será tão divertido, não é todo livro que vai agradar.
O melhor é encontrar aqueles que agradam, que dão prazer, que divertem. Mas mesmo naqueles que não agradam devemos reconhecer sua capacidade de despertar um raciocínio crítico, de nos trazer cultura, informação, de nos fazer "Conhecer". Deve-se ler e estudar Literatura por que é bom, mas deve-se ler e estudar Literatura por que é importante.
E como estudar Literatura? Como ensinar Literatura?
Falando mais da vida do autor do que lendo sua obra? Engessando as escolas literárias? Resumo? Esquema?
Deixe-nos dar um dica:

“Também não seria outra a verdadeira explicação para o fato de se considerarem aptos, muitas vezes, os gentios da terra e os mamelucos, a ofícios de que os pretos e mulatos ficavam legalmente excluídos. O reconhecimento da liberdade civil dos índios – mesmo quando se tratasse de uma “tutelada” ou “protegida”, segundo a sutil discriminação dos juristas – tendia a distanciá-los do estigma social ligado à escravidão. É curioso notar como algumas características ordinariamente atribuídas aos nossos indígenas e que os fazem menos compatíveis com a condição servil – sua “ociosidade”, sua aversão a todo esforço disciplinado, sua “imprevidência”, sua “intemperança”, seu gosto acentuado por atividades antes predatórias do que produtivas – ajustam-se de forma bem precisa aos tradicionais padrões de vida das classes nobres. E deve ser por isso que, ao procurarem traduzir para termos nacionais a temática da Idade Média, própria do romantismo europeu, escritores do século passado, como Gonçalves Dias e Alencar, iriam reservar ao índio virtudes convencionais de antigos fidalgos cavaleiros, ao passo que o negro devia contentar-se, no melhor dos casos, com a posição de vítima submissa ou rebelde.”

Sérgio Buarque de Holanda – Raízes do Brasil

É muito comum se ouvir que o índio no romantismo se parecia mais com um cavaleiro medieval do que com um índio propriamente dito, mas por quê? E, naquele momento, isto era uma visão distorcida por parte dos nossos escritores? Ou só se mostrou distorcida posteriormente? Na verdade, era ou é uma visão distorcida?
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Anna Carolina Trivilin e Steller de Paula

quinta-feira, 7 de agosto de 2008


Sobre o Curso




BEBA CONHECIMENTO
Curso de Literatura Brasileira

com Anna Carolina Trivilin e Steller de Paula



Período:
13 de setembro a 13 de dezembro de 2008
aos sábados, das 08h às 11h ou das 14h às 17h.
Investimento: R$ 90,00.
Inscrições: 11 de agosto a 11 de setembro no C.H da UECE.

Informações:
CEL (Centro de Estudo das Linguagens)
Av. Luciano Carneiro, 345 - Centro de Humanidades (CH)
fone | (85) 33086 9752 86502079